Em artigo recente, falei sobre restaurantes que cerraram suas portas. Para toda regra há exceção: o Solar dos Rosas, saudoso português que frequentei por mais de uma década, na avenida Catalão, ressuscitou! Não na Pampulha, mas em dois estabelecimentos na zona sul. A primeira visita foi ao da avenida Toronto, no centro comercial do Jardim Canadá, junto ao Posto Chefão, saída para o Rio.

Fiquei muito feliz com o renascimento. A esposa do dono estava lá, tomando conta do empreendimento. Disse-me que o marido mantém há anos um self-service a quilo – Famintus, acho que é esse o nome. Simpática e ciosa da boa reputação que o nome Solar dos Rosas carrega, explicou que apenas o concorrente ao lado, na praça de alimentação, Montana Grill, pode oferecer bufê.

O serviço à la carte baseia-se em cardápio que concilia pizzas, massas, alguns pratos triviais da culinária brasileira com especialidades portuguesas. Quatro tipos de bacalhau e um cabrito à moda da casa são as opções para matar as saudades da velha casa, aberta pela primeira vez no início da década de 1970.

Acho equivocada a mescla, que compromete a identidade original. Quem frequentava a casa, o fazia querendo essencialmente cozinha portuguesa e os frutos do mar memoráveis dos almoços de domingo, em bufê livre a preço justo.

O lombo de bacalhau assado e frito para criar uma crosta salpicada de alho, na companhia de batatas sautées e arroz de brócolis, continua delicioso. Os bolinhos de bacalhau também são excepcionais, acima da média na capital, crocantes, sequinhos, recheio delicado, saborosos. Tudo feito pelas mãos do mesmo cozinheiro, que garante ter ado seus segredos para o pessoal responsável pelo estabelecimento aberto na Getúlio Vargas, perto da Afonso Pena, em Funcionários.

Praça de alimentação é no máximo um lugar confortável. Falar em charme é quase impossível. A única que tem certo aconchego em BH é a do Ponteio, tão mal explorada atualmente, com exceção do Hokkaido. Teria sido ótimo se o Solar ressurgisse ali, pois no shopping onde está frio e vento comparecem, às vezes mais do que a clientela.

O atendimento precisa ganhar experiência, mas é razoavelmente solícito e sobretudo gentil. A cozinha trabalha rápido, pelo menos em dia de poucos fregueses. Os preços são compatíveis com a qualidade do pescado e a natureza do prato. Enfim, há motivos para voltar e principalmente para conferir o Solar dos Rosas da área central. Em breve conto a você o que achei de lá.

Finalizo com breve nota sobre o retorno ao Mayu, na rua Rubim, esquina de avenida Uruguai, Sion. Gigi foi à casa pela primeira vez e adorou. Eu continuo gostando. Se os preços são mais altos, principalmente por inexistir opção de rodízio, teishoku ou algo do gênero, é notável a criatividade, a gama diversificada de opções, a beleza dos pratos e, em geral, o acerto das combinações.

Sugiro começar pelo ceviche, que é divino, e depois avançar pedindo duplas, de modo a ter uma prova variada. Outros itens do Mayu que merecem destaque são o atendimento gentilíssimo e presto, a carta de sakês superior ao da maioria dos concorrentes belo-horizontinos e o ambiente elegante, intimista, agradável de dia e romântico à noite.

Mas vale insistir que é um japonês novidadeiro, onde a tradição conta bem menos que a inovação. Portanto, se você preferir um japa autêntico, melhor evitar esse, digamos, californiano.