Seria impossível em poucos caracteres explicar um conflito que já dura milênios. Há, entretanto, uma demanda crescente pelo entendimento do contexto que faz com que palestinos e israelenses sejam rivais históricos. Os povos islâmicos e os judeus são descendentes de uma mesma linhagem familiar, que começa com o patriarca Abraão, pai de Isaque e de Ismael, cada um deles seguidor do seu próprio caminho.

Os livros sagrados das três grandes religiões – cristianismo, islamismo e judaísmo – se estabeleceram a partir de um mesmo foco territorial. A Bíblia, a Torá e o Corão foram desenvolvidos a partir de narrativas vivenciadas no espaço que hoje conhecemos como Oriente Médio, e as cidades daquela região têm simbolismos étnicos e religiosos que peram uma análise mais superficial sobre o tema.

A rivalidade entre esses povos não começou recentemente, mas desenvolveu-se muito a partir dos anos 1940, quando o Estado de Israel foi criado e legitimado por uma resolução da ONU. Esperava-se que de forma simultânea fosse criado um Estado palestino, o que não ocorreu. A Palestina não é reconhecida por diversos países da comunidade internacional, e, por essa razão, demandam uma igualdade de status frente aos israelenses. Muitas vezes essa demanda não foi apresentada de forma amistosa.

Há 50 anos, durante um dos mais importantes feriados religiosos entre os judeus – o Yom Kippur –, Israel foi atacado por uma coalizão de Estados árabes, liderados pela Síria e pelo Egito. Muitas mortes, vários feridos, e um recado foi dado: o mundo islâmico não estava de acordo com a criação de uma estrutura estatal que abrigasse o povo hebreu sem que houvesse, de igual forma, a criação de um Estado para os palestinos.

No último sábado – um dia sagrado para o judaísmo –, a nação israelense estava vivendo um momento de celebração com a Festa dos Tabernáculos – o Sucot – quando recebeu o bombardeio de mais de 2.000 mísseis vindos da Faixa de Gaza, onde encontra-se a maior concentração de palestinos na região. O grupo extremista Hamas assumiu a responsabilidade pelo atentado, que já contabilizou um número preocupante de vítimas, como há muito não se via no Oriente Médio.

O Hamas não foi criado para ser um grupo terrorista, mas acabou por tornar-se. Inicialmente fundado para ser um partido político cuja principal bandeira seria a criação de um Estado palestino, o Hamas executou um grande ataque aos israelenses. A estrutura de proteção antiaérea, o Domo de Ferro, não foi suficiente para impedir que um volume grande de ataques alcançasse civis em grande parte do território de Israel. 

Estamos, neste momento, em um contexto de plena hostilidade. Há a possibilidade de que Israel seja atacado, também, pelo norte. O Líbano, que é um adversário importante dos israelenses, abriga outro grupo, ainda mais forte que o Hamas, que é o Hezbollah. Há indícios de que os dois grupos extremistas estejam sendo financiados pelo Irã.

A comunidade internacional já se movimenta com reuniões realizadas na sede das Nações Unidas, em Nova York, e também em reuniões da Liga Árabe. Grande parte das potências militares do Ocidente já se posiciona a favor de Israel. Rússia e China calculam o seu próximo o e buscam manter-se neutros até o momento. O Brasil, governado por um partido de esquerda, limita-se a dizer que é contra a guerra. A diplomacia lulista está enclausurada em um idealismo retrógrado, que a impede de condenar a ação do Hamas, assim como condenar os ataques da Rússia contra a Ucrânia.

Os próximos dias serão decisivos. Os ataques que estão sendo televisionados em tempo real por todo o mundo devem gerar comoção de ambos os lados. Netanyahu e Abas, representantes respectivos de Israel e Palestina, se dizem injustiçados pelo episódio. O Brasil se organiza para buscar os seus cidadãos na região de maior tensão no mundo.

CHRISTOPHER MENDONÇA é doutor em ciência política e professor de relações internacionais do Ibmec-BH

*As opiniões apresentadas neste artigo são de exclusiva responsabilidade de quem o assina não representando necessariamente a posição do jornal ou da instituição de ensino à qual o autor está vinculado.